No ano de 1973, durante o governo militar (1964 a 1985), Raul Seixas, grande roqueiro baiano, lançou a música “mosca na sopa”, contando a história de uma mosca que veio para chatear uma pessoa, pousando em sua sopa, perturbando seu sono e que não poderia ser eliminada nem com DDT (agrotóxico muito potente, usado até os anos 80, quando foi proibido no Brasil para agricultura).
Em 2001, foi identificada uma “mosca” que tiraria a paciência de muito agricultor, tão inconveniente quanto a mosca de Raul. A Mosca Negra do Citros (Aleurocanthus woglumi), apesar do nome, não é mosca e sim uma prima das cigarrinhas. Também não é negra, mas azul bem escuro, e ataca, além dos citros (laranja, limão, tangerina), mais de trezentas espécies de plantas.
"Ainda hoje está presente em muitos quintais e plantações do Brasil, urbanos ou rurais. Apesar disso, dá pra viver na paz que Raul não teve, e até sem veneno."
Ela não pousou na sopa de ninguém (até onde se sabe), mas se espalhou por diversas espécies frutíferas, causando muita dor de cabeça a produtores, pois era considera praga quarentenária (deixou de ser em 2014), por poder causar perdas de até 80% da produção, e “sugou” muito dinheiro do governo federal e das agências de defesa agropecuárias dos estados para ser controlada, quase uma dengue vegetal.
Ainda hoje está presente em muitos quintais e plantações do Brasil, urbanos ou rurais. Apesar disso, dá pra viver na paz que Raul não teve, e até sem veneno.
Sua identificação é fácil: basta olhar a parte de baixo das folhas (preferência mais novas) e procurar por pontos pretos (ninfas, que são a fase jovem da praga, ou adultos). São bastante espertas e fogem do sol, sendo seus ovos de cor alaranjada e postos em forma de espiral. Lembra da expressão de fazer o número dois rodando? Essa “mosca” bota ovo assim... cada doido ou inseto com sua mania, não é?! Observar, ainda, a formação de fumagina - fungo preto na parte de cima das folhas.
O pesquisador da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba – Emepa (João Pessoa/PB), Rêmulo Araújo Carvalho, descobriu uma solução muito fácil e barata - detergente de lavar prato. Pois é, você vai “lavar” a mosca antes que ela tome a sopa. Basta diluir 400 ml de detergente neutro em 20 litros de água e fazer 5 aplicações com um pulverizador costal, uma por semana, para matar todas as 4 fases jovens e a fase adulta, parando, assim, o zum, zum, zum no seu “pé de ouvido”.
*Paulo Melo Segundo é engenheiro agrônomo pela UFRPE, Fiscal Estadual Agropecuário na Adapi e escritor agrodivertido, criando assim o Segundo Agro, um portal de informação simples, direta e humorada.
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