Não é novidade que a situação do Brasil anda ruim, afrodescendente, atingindo, inclusive, todas as áreas produtivas, o que me faz lembrar um dito popular, adaptado por Tiririca na sua campanha para deputado federal que diz: Nada é tão ruim que não possa ficar pior?!
Pois bem, na bananicultura nordestina isso virou realidade com a entrada de um fungo bastante perigoso, o mais importante atualmente para quem cultiva a planta, o Mycosphaerella fijiensis (parece nome de macaco Rafaela nascido nas ilhas Fiji, vôte), comumente chamado de Sigatoka Negra, que já diz tudo sobre como fica a situação do bananal.
Esse fungo apareceu no Brasil pela primeira vez em 1998 no estado do Amazonas e praticamente tomou conta do país, mas misteriosamente ainda não tinha nocauteado nossa região. Falavam que o fungo não resistiria às altas temperaturas do nordeste, que chegam a 40ºc em determinadas regiões, que esse sol forte seria uma barreira natural à sua sobrevivência e desenvolvimento, porém, aparentemente, essa praga achou algum filtro solar potente e nos anos de 2013 e 2016 os estados do Maranhão e da Bahia, respectivamente, perderam o status de área livre da praga, concedido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, fazendo essa teoria cair por terra.
Isso fez ligar o alerta na defesa vegetal do Piauí, já que fazemos divisa com os dois estados já citados e temos dois grandes polos produtores de bananas, um no platô de Guadalupe, município com aproximadamente 1.000ha em produção irrigada e outro no tabuleiro costeiro piauiense, em Parnaíba, com aproximadamente 400ha, quase toda essa área é certificada e acompanhada por fiscalização efetiva da ADAPI (Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Piauí), ambas as regiões chegam a produzir 15.000 toneladas/ano da fruta.
Existe um grande risco de o Piauí ser contemplado com a chegada dessa praga, já que a produção é exportada para os estados do Ceará, Maranhão, Amapá, Pará e São Paulo (com exceção do CE, todos já tem o fungo) e as variedades plantadas no Piauí serem todas vulneráveis a Sigatoka Negra. Isso dificulta ainda mais o serviço de fiscalização quando se leva também em consideração que o Estado do Piauí é oficialmente livre dessa praga quarentenária, fato reconhecido pelo Ministério da Agricultura, título que facilita a abertura de comércio internacional e é garantido pela ação eficiente da ADAPI.
O ingresso e estabelecimento desse fungo nessas regiões do Piauí trará um prejuízo enorme, um caos social e econômico maior que aquele que sua sogra faz ao se mudar pra sua casa, podendo causar desemprego e uma quebra na economia local, haja vista que não se planta variedades resistentes a praga e o fungo pode rapidamente acabar com o bananal, além de trazer prejuízos ambientais, pelo fato dos produtores terem que aplicar mais agrotóxicos para controlar a praga.
O fungo pode chegar de diversas formas a uma área livre, se espalhando através de mudas doentes, água da chuva, vento, folhas usadas como protetor nas cargas (o que é proibido, mas insistentemente ainda usado) ou pela caixaria usada no transporte, que deve ser de plástico e sempre desinfestada ao fim da viagem.
A identificação do fungo pode ser feita visualmente no campo e ao menor indício da doença o fiscal da ADAPI recolhe amostra e encaminha para análise, pois somente o resultado laboratorial pode confirmar de forma oficial.
Para evitar a entrada dessa praga no Piauí, a ADAPI trabalha arduamente, através de seu corpo técnico altamente qualificado, com engenheiros agrônomos em campo vistoriando os plantios, e com técnicos em agropecuária em barreiras de divisa estadual, conforme quadro abaixo, responsáveis pela fiscalização das cargas, principalmente, daquelas que entram no estado com sua origem em alguma unidade da federação que tenha, reconhecidamente, o fungo instalado, tomando as medidas cabíveis após a análise minuciosa do veículo transportador e da documentação. Tais decisões vão desde o ordenamento de retorno da carga à sua origem, multa e até destruição das bananas e/ou mudas transportadas, de acordo com o que a nova Legislação de Defesa Sanitária Vegetal (Lei Estadual nº 6.953 de 08/02/2017 e Decreto Estadual nº 17.514 de 04/12/2017), recém-saída do forno, estabelece.
O fungo só ataca as folhas, então, consuma a fruta sem muita preocupação e deixe o stress para a ADAPI, que cuida da saúde da população no campo e na cidade, trabalhando em prol da sanidade fitossanitária e desenvolvimento do setor primário estadual e nacional.
*Paulo Melo Segundo é engenheiro agrônomo pela UFRPE, Fiscal Estadual Agropecuário na Adapi e escritor agrodivertido, criando assim o Segundo Agro, um portal de informação simples, direta e humorada.
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