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Zoonose musical

Atualizado: 30 de set. de 2020

Na minha adolescência, no fim da década de 1990, cansei de tomar “cachaça”, dançar e ter dor de cotovelo ao som do Forró da Brucelose, banda criada por um veterinário, em Gravatá-PE, que usou o nome dessa doença, comum em bovinos, que foi fruto de sua dissertação de mestrado.


A brucelose foi identificada pela primeira vez em 1887, é causada por uma bactéria do gênero Brucella spp. e é uma zoonose, ou seja, uma doença transmissível ao ser humano, assim como a raiva, que gera vários problemas podendo até matar.


Essa doença tem uma grande importância no meio rural, pois causa abortamento, nascimentos de bezerros fracos, corrimento vaginal, retenção de placenta e infertilidade temporária ou definitiva.

Já nos chifrudos (machos) as características são: inflamação aguda do sistema reprodutivo, em outras palavras, os “ovos” do boi podem inchar, ficar com pus, endurecer e até necrosar, causando também infertilidade.



Entre os amantes de derivados do leite, nós, meros mortais, os trabalhadores do campo são os mais expostos à contaminação. Por isso o uso de equipamentos de proteção individuais é indispensável. Já os consumidores sofrem, por tabela, com a falta de cuidados e controle por parte do criador, que burla as leis e normativas. Os sintomas de brucelose humana são similares a diversas outras infecções, sendo necessária uma investigação e exame específico para um correto diagnóstico.


Então, fique atento à febre: mal-estar, suor noturno, calafrios, fraqueza, cansaço, perda de peso e dores no corpo. Assim como a dor de cotovelo que temos com músicas do passado, a brucelose tem cura e tratamento e pelo SUS, mas tem que descobrir logo, pois a bactéria pode ficar incubada por até 2 anos e um dos efeitos do mau tratamento é infertilidade e “ovo inchado”.



A principal fonte de infecção é a vaca. Infelizmente não tem camisinha (ou camisão) para boi. A transmissão pode se dar por água, pastagem, sêmen, acasalamento além de fômites (iria morrer sem saber o que era isso, mas simplificando, são materiais e utensílios da lida com o animal) contaminados.

Então, como na época dourada das minhas cachaças, que sempre dava um “esquenta” do lado de fora da casa de show, antes de tomar seu leite, ferva e evite consumo de queijo cru sem procedência. Manteiga e sorvetes clandestinos também devem ser encarados com um mugido de desconfiança.

"A vacina, somente em fêmeas entre 3 e 8 meses de idade, é obrigatória em dose única (assim como a marcação com ferro quente) "

E você, que mora na cidade, não pense que está em segurança. Pequena ou grande, em casa ou apartamento, se consome leite e derivados crus, principalmente no interior (quem não resiste àquela coalhada caseira ou um queijo coalho furadinho que range nos dentes?), saiba que são uma grande fonte de transmissão da bactéria ao ser humano.


A ação dos órgãos de defesa agropecuária estaduais, através do controle e fiscalização da vacinação das fêmeas, é a chave do sucesso. A vacina, somente em fêmeas entre 3 e 8 meses de idade, é obrigatória em dose única (assim como a marcação com ferro quente) e, caso o produtor perca essa janela, vai ter que chorar o leite derramado, pois será obrigado a fazer uma vacina mais cara e pagar multa. Pois é, não tem nostalgia de música de banda que fará ele se livrar dessa dor.


Consumidor, fique atento! Somente adquira produtos de procedência e com selo de inspeção municipal, estadual ou federal (famosos SIM, SIE ou SIF) para poder curtir por um bom tempo a volta ao passado, com boa música, queijo assado, um aperitivo e aquele forró gostoso.



Imagens:

Agência de Defesa Agropecuária do Maranhão – Aged

Google imagens


*Paulo Melo Segundo é engenheiro agrônomo pela UFRPE, Fiscal Estadual Agropecuário na Adapi e escritor agrodivertido, criando assim o Segundo Agro, um portal de informação simples, direta e humorada.


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